terça-feira, 9 de abril de 2013

ENEM



Como pode um exame que durante seus 15 anos de história foi o alvo de diversas polêmicas, ser agora o único meio de acesso das melhores faculdades federais brasileiras? Recentemente, até mesmo a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a única faculdade federal do Brasil com certificado internacional de qualidade, rendeu-se ao exame polêmico. Reservei esta postagem para falar das polêmicas do exame.
Em 1998 o exame foi criado pelo Ministério da Educação para testar o aprendizado dos alunos do Ensino Médio e ajudar o governo a melhorar a educação no País. Na época a prova contava apenas com uma redação e 63 questões, número bastante inferior às 180 atuais.Em sua primeira edição o exame contou com 157,2 mil inscritos e 115,6 mil participantes. Este número começou a crescer somente em 2001, quando 1,2 milhão de estudantes participaram da prova. Foi também neste no que o exame parou de cobrar taxa de inscrição para alunos de escolas públicas.
Em 2004, com a criação do ProUni (Programa Universidade Para Todos) que permite que alunos de escolas públicas ganhem bolsas em universidades particulares dependendo da renda e da nota no exame, que o ENEM realmente se popularizou. No ano seguinte 2,2 milhões de estudantes participavam do exame.
Foi em 2009, quando o Enem tornou-se um tipo de "vestibular nacional" para ingresso nas universidades públicas de todo o país, que a prova passou a ter 180 questões e uma redação, como é até hoje. 2009 também é o ano do começo das polêmicas: um grupo roubou os cadernos de provas de dentro de uma gráfica e tentou vendê-los por R$ 500 mil reais para jornais de todo o país. A prova acabou vazando dois dias antes do dia de sua realização. O governo então decidiu adiar a data da prova e, obviamente, alterá-la. A mudança causou danos ao governo e aos milhões de estudantes inscritos. Por causa do vazamento da prova, muitas das universidades que tinham decidido substituir o vestibular convencional pelo Enem mudaram de ideia, como a USP (Universidade de São Paulo). 40% dos alunos inscritos desistiram de fazer a prova naquele ano. Para piorar a situação, foi divulgado o gabarito errado!
Mesmo com toda esta confusão, o ENEM de 2010 atingiu o número de 4,6 milhões de inscritos! Mas os problemas continuam. O governo federal criou o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), um programa que permite que, com uma única inscrição, os alunos concorram a vagas em universidades em todo o país.Uma ótima ideia, se o site não tivesse travado no primeiro dia de inscrições, evitando que muitos alunos participassem do programa. Não houve prorrogação dos prazos de inscrição.
E os problemas não param por aí. Os dados de 12 milhões de inscritos dos anos 2007, 2008 e 2009 vazaram na internet, podendo ser acessados por qualquer um. Os estudantes tiveram seu CPF, RG e nome completo da mãe expostos. O Inep decidiu mudar o sistema para que falhas como esta não aconteçam novamente. Mais problemas com o gabarito! Em 2010, primeiro vinham as questões de Ciências Humanas e depois de Ciências da Natureza, mas no gabarito veio trocado. Os fiscais pediram para que os alunos respondessem de acordo com o número das questão, mas cada um respondeu de um jeito, então o MEC criou em seu site um espaço para que os alunos escrevessem como responderam a prova. Falando assim parece que a culpa foi em grande parte dos alunos que não obedeceram aos fiscais, mas não, acontece que 33 mil provas impressas repetiam vários números e questões, excluindo outras perguntas. O governo não quis que todos os estudantes refizessem a prova, portanto, somente 9,5 mil participantes, que queixaram-se do acontecido, tiveram direito de fazer o exame novamente.
Além disso, também em 2010, o tema da redação vazou. Uma professora baiana que aplicou a prova olhou o tema da redação antes da prova começar, ela avisou a seu marido que pesquisou sobre o tema e avisou ao filho, participante desta edição, que consultou professores de como fazer uma boa redação sobre o assunto. O candidato foi expulso e os pais foram processados. Um jornalista conseguiu enviar uma mensagem de texto com o tema da redação para o seu jornal enquanto fazia a prova. A intenção era provar a falha na segurança do exame que deixou que uma violação à suas regras ocorresse. O Inep ignorou o fato, já que não houve benefício para nenhum participante.
Em 2010 o ENEM citou um trecho errado do livro 1808, dizendo que os portos no Brasil foram abertos em 1810, quando o correto seria 1808. O Inep alegou que isso não impedia que o aluno chegasse à resposta correta.
Em 2011, problemas no cartão de confirmação, no Rio de Janeiro, mais de 1000 estudantes receberam um cartão com o local da prova errado. O documento indicava um prédio a 200 metros de distância do local correto. E olha que nesse ano o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e uma empresa especializada em gestão de risco foram chamados para acompanhar todo o processo de elaboração, produção e distribuição das provas! O governo também fazia pressão para que o ENEM fosse o único meio de ingressar em uma universidade federal. 
E a redação vaza novamente. O jornalista do O Globo publicou um texto no dia seguinte contando como fez para burlar diversas regras no exame. Ele enviou sua redação para o jornal usando o celular, saiu do local de proas antes do permitido, usou boné, caneta não transparente, lápis e borracha. O Inep declarou:  "O tema passou a circular nas redes sociais e em alguns portais de conteúdo a partir das 13h59, sem qualquer interferência no sigilo ou na sua realização".
O Inep acionou a polícia federal três dias após o exame de 2011 para informar que a prova tinha vazado. Alguns alunos de Fortaleza tiveram acesso à prova antes da realização do exame através de uma apostila. Os alunos tiveram que refazer a prova em novembro, na mesma data que os detentos.
Mais problemas com a redação do ENEM em 2011. Inep admite erro na correção de 129 redações. O órgão alegou erro material na correção, isso pode ser,  uma prova que não foi corretamente escaneada e ficou em branco ou um número trocado no envelope de identificação, o que fez com que a redação fosse extraviada.
Em 2012 um professor tentou vazar a prova do ENEM durante o seu pré-teste, ele está sendo processado.
Mas 2012 foi o ano das redações no ENEM. Recentemente, foi divulgado que alunos com erros de ortografia tiram a nota máxima na redação do exame e alunos que boicotaram o teste escrevendo receita de macarrão instantâneo e hino de time de futebol não zeraram a redação.
Segundo os participantes responsáveis pelo boicote, sua intenção era provar que as redações do ENEM não eram lidas com atenção por seus corretores, que dariam notas aleatórias. Mas, sinceramente, não é esta a impressão que o exame está passando?
Agora que a grande maioria das universidades federais adotam o ENEM, recomendo que os corretores da redação sejam cautelosos na execução de seu trabalho, porque, fora a redação, não duvido da capacidade do exame de avaliar os conhecimentos dos alunos.

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